Sunday, May 16, 2010

exposição lxfactory 14maio 2010


“Expiação de 3 corpos suspensos”
Aço e corda – medidas variáveis
2007

As três esculturas expostas foram seleccionadas de um conjunto de 12. Todas as doze foram executadas deste modo: “socorrendo-me de uma forte fonte de calor, num torno de aperto em ferro assente numa mesa de aço, as barras pesadas eram presas, o fogo forte orientado pelo meu braço esquerdo aquecia pequenas secções. O negro passava a vermelho rubro e nesse instante, utilizando o meu peso e o peso da peça, manipulava-a com o meu braço direito até esta ganhar de novo resistência em contacto com o ar. Espera-se que arrefeça e nesse momento imagina-se a próxima acção que se pretende. A forma final resulta de uma imagem mental que procura antecipar-se ao tempo limitado do trabalho e à natureza física da matéria, submetendo-a e aprisionando-a a essa vontade “

“Fim de um acto violento”
Aço - 210 x 40x16 cm
2010
“O ferreiro bakitara trata a bigorna como uma noiva. Quando os homens a transportam para casa, cantam como numa procissão nupcial. Quando a recebe , o ferreiro borrifa-a com água «para que ela dê à luz muitos filhos» e diz á sua mulher que trouxe para casa uma segunda esposa”.O objecto foi encontrado debaixo de terra, foi limpa e transportada ao colo até finalmente repousar na base de um tronco de madeira. Noutro momento dessa procura é descoberto a barra de aço deformada por um erro e é guardada .
Um dia a forja é ligada e fogo animado pelo oxigénio , aquece o ferro deformado que é forjado sob o peso do martelo durante três horas. A energia do martelo ao expulsar as escórias do metal é animado pelo grito da bigorna que ecoa no espaço . A força do braço esgota-se e é gerado um objecto que é empurrado ,”lançado”contra a massa metálica que o viu nascer. Encerra-se o momento, o fim de um ciclo de trabalho.
“O instante do ferreiro é um instante a um só tempo muito isolado e ampliado. Promove o trabalhador ao domínio do tempo, mediante a violência de um instante”.


s/título
Aço – 150 x 58 x 35 cm
2009

Esta peça não sendo idealizada para este espaço encontra nele um segundo acto de representação aludindo a um objecto /artefacto alienígena e estranho disposto a ser encontrado por entre ruínas ou lugar repleto de despojos civilizacionais. A forma inspirada numa ponta de flecha primitiva também ela um artefacto repleto de simbologia, procura representar não só uma libertação imaginária da distancia e da gravidade, como uma espécie de objecto punitivo vindo dos céus.







“A prenda”
Aço – 230x70x60 aprox.
2010

A prenda foi-me oferecida pelos meus avós maternos. A escória de metal que se encontra dentro da teia de aço foi descoberta nos anos 40 na união de duas serras transmontanas ,o Marão e o Alvão a 1200 metros de altitude.
Portugal, não entra em guerra mas envia matéria -prima para as forças em conflito. O Volfrâmio era extraído do seio da terra e das rochas um pouco por todo o país. Os meus avós procuravam-no pela serra , levantando pesadas pedras e as que encontravam com o precioso minério eram trazidas ás costas por caminhos traçados pelos passos dos homens e dos animais com o frio o vento e o calor do tempo serrano.
A descoberta deste pedaço de metal no topo de um monte leva-me a imaginar a semelhança do encontro dos primeiros povos metalúrgicos com o ferro meteórico apontado por eles como uma dádiva de um mundo sagrado, tornando-se ele mesmo um objecto sagrado mais valioso do que o ouro.( A palavra suméria AN-BAR, o vocabulário mais antigo que designa o ferro, é constituída pelos signos pictográficos «céu e fogo» traduzida como “metal celeste” ou” metal estrela”).
A prenda é uma descoberta intrigante que foi guardada e oferecida na minha idade adulta como uma passagem de testemunho geracional e adquirindo para mim um valor inestimável.


Sunday, May 2, 2010